sábado, 29 de março de 2008

DITADURA URUGUAIA (1973-1985)

Quarta-feira passada tive a feliz oportunidade de dividir a mesa da aula inaugural dos cursos de Comunicação, Ciência Política e História da ULBRA/Canoas. Minha realização se deve pela honra de ter conhecido uma figura talvez não muito conhecida da mídia, ainda que tenha aparecido numa extensa reportagem feita pelo Fantástico em 2007, mas com certeza um exemplo principalmente para as novas gerações tão despreocupadas das questões sociais do nosso continente. Refiro-me a a Aurélio Gonzales, jornalista marroquino que desde os 21 anos se encontra no Uruguai e que dedicou sua vida, através de sua profissão, para denunciar todas as arbitrariedades cometidas neste país o qual segundo ele adotou como se fosse seu. Abaixo segue a história de vida e a experiência fascinante deste homem que ainda hoje aos 75 anos de idade mantém-se comunista e preserva toda a sua vitalidade e esperança numa sociedade mais justa e menos desigual.

Falar na história visual do período anterior ao golpe de estado de 1973, especialmente a partir de 1967 com a posse de Pacheco Areco e o início da “Ditadura Constitucional” é falar em Aurélio González. O fotógrafo nascido no Marrocos, na época um protetorado espanhol, chegou ao Uruguai como clandestino em um transatlântico de luxo, no início da década de 50. A partir de 1957 registrou nas páginas de El Popular, diário comunista, os episódios que levaram a “Suíça da América Latina” a uma brutal ditadura. Como prêmio por uma vida em nome do jornalismo engajado “ El Tigre Aurélio” encontrou, depois de muita procura, um tesouro escondido há 33 anos. Inquieto, romântico, corajoso, este gigante da dignidade jornalística em uma ação digna dos grandes filmes de aventura resgatou no início de 2006, mais de 30 mil fotografias que registram um período importante da história coletiva de um povo, ajudando, com seu incansável trabalho, na construção da identidade política e social de todos os uruguaios.

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Cinco de maio de 1965. Enquanto um grupo de manifestantes protesta contra a intervenção norte-americana apoiada por tropas brasileiras em Santo Domingo, na América Central, a intolerância desfila pelas ruas de Montevidéu. Contra a truculência das armas apenas a sutileza de um clique. Atrás da máquina fotográfica que registra a repressão está Aurélio González Salcedo, o mais implacável fotógrafo da história do Uruguai.

“Yo salí para sacar la foto. Cuando el inspector José Luis Tellechea me vió disparó su revólver. Yo me tiré al suelo, pero saqué la foto y logré registrarlo en un borde del negativo. Yo fotografié la persona que me disparó”[1]

O policial errou o alvo e a foto foi publicada em uma revista na União Soviética, contabilizando para o já lendário fotógrafo, outra situação de uma vida em que muitas vezes a realidade imitou a ficção.

A falta de perspectivas em uma Espanha empobrecida, aliada a uma posição familiar radicalmente contrária à ditadura instaurada pelo Generalíssimo Francisco Franco presentearam o jornalismo latino-americano com o jornalista que, com suas ações cinematográficas, transformou-se em modelo de profissionalismo e dignidade para várias gerações de fotógrafos.

Filho de um militar originário da Extremadura e de uma dona-de-casa andaluz Aurélio González nasceu em 14 de novembro de 1931 no pequeno povoado de Uad Lau, norte do Marrocos, na época um protetorado espanhol. Do outro lado do mundo, o Uruguai, país que vai há pouco tempo fazer parte de sua vida começa a viver uma grande crise. Depois de vários anos de crescimento significativo sustentado pelo capital produtivo, especialmente do setor pecuário que se integrou cedo à dinâmica dos negócios internacionais, enfrentava uma forte retração causada pelo crack da bolsa de Nova Iorque. As excepcionais condições naturais uruguaias que favoreciam a criação de gado, aliadas à crescente demanda externa que sustentaram esta etapa da vida nacional, sentiram os efeitos do “terremoto” na economia mundial.

Para um espanhol, os problemas naquela época eram ainda maiores. Além da questão econômica existia o flagelo da Revolução. A infância de Aurélio juntamente com seus nove irmãos foi difícil, muito pobre. A falta de recursos, especialmente após a morte do pai, fez com que a Marinha surgisse como uma opção, afinal em tempos difíceis, representava uma boca a menos na mesa. Com 17 anos foi uma nova experiência abandonada pouco tempo depois.

“Recordemos que en aquel tiempo estaba la dictadura de Francisco Franco en España; y lo militar muchas veces eran las bofetadas, los golpes, la comida escasa. Además, aunque no se podía hablar, y sólo haciamos dentro de la casa, en mi familia ninguno era franquista. Estábamos contra el sistema entonces yo me dije: no me quedo. Mi renuncia al servicio militar la hice como protesta contra el sistema muy rudimentario todo, pero era así.” (VOCES, 29 de setiembre 2005).

Aos 19 anos mais uma vez o quartel. Desta vez, trata-se do Serviço Militar obrigatório. Nos primeiros três meses de instrução em San Fernando, perto de Cádiz e posteriormente em Las Palmas de Gran Canaria. É ali que no porto, a visão de um grande barco de bandeira italiana, o Andrea C, embala os sonhos de jovem em busca de uma nova vida. Aurélio sem qualquer dinheiro embarca como clandestino e mesmo descoberto conquista a simpatia de um oficial e vários marinheiros que convencem o Comandante a não desembarcá-lo.

Duas da tarde de quatorze de novembro de 1952, Aurélio chega ao porto de Montevidéu. O Uruguai que recebe este marroquino-espanhol é governado pelo sistema colegiado, modelo buscado na Europa por José Batlle y Ordoñez e que começou a vigorar em 1919. Presidente em dois períodos, entre 1903 e 1907 e 1911 e 1915, foi este o político que derramou sobre o Uruguai novas idéias políticas e sociais, sob um pano de fundo liberal-progressista de cunho burguês. Considerado o pai do Uruguai moderno foi exatamente o fato de ter modelado a vida política econômica e social por tanto tempo, transformou em lugar comum responsabilizá-lo pela maioria das venturas, mas também das desgraças do país. Uma delas segundo Gitli, em 1987, “foi criar um modelo sob uma base exportadora extremamente frágil dependente em grande escala das condições externas”

Esta dependência é fácil de ser constatada. Durante as duas Guerras Mundiais países com grande produção primária abasteceram os aliados. Este foi o caso uruguaio que somou grandes ganhos com as exportações circunstanciais do período, especialmente de carne e lã. A partir de 1945, com o fim do conflito, o esforço para recuperação das economias européias canalizou grande parte do capital internacional para aquela região em detrimento das nações periféricas.

Aurélio González dá seus primeiros passos em um Uruguai que começa a entender que não tem mais recursos para pagar a conta de um estado de bem-estar social que chegou ao esgotamento. O sonho do país modelo acalentado por Batlle y Ordóñez,dissipou-se na metade de década de 50 com a diminuição da produção no campo e o esgotamento da política de substituição de importações. Isso acarretou a diminuição do Produto Interno Bruto e, principalmente, um achatamento salarial que se manteve até os anos 80[2].

A realidade econômica e social escancarava que aquele não era um bom momento para quem vinha de fora tentar uma nova vida. Salvo em pequenos períodos o Uruguai deixou de crescer por quase 30 anos. O desempenho da economia mostrava a deterioração do país e sua perda de status internacional. A queda foi abrupta: em 20 anos, entre 1950 e 1970, de um total de 21 países do continente, apresentou apenas o décimo nono PIB. Os preços dos produtos agropecuários caíam ao mesmo tempo em que a economia começava a conviver com variáveis preocupantes, como a inflação, que passou da média de 5% ao ano na década de 40 a um nível de 11% entre 1951-1955.

A dinâmica produtiva não reagiu, piorando o nível de vida de importantes contingentes da população. A classe média oriunda dos tempos do “Uruguai Feliz” sentiu os efeitos da recessão. Os índices, a partir de 1955, foram alarmantes: as reservas de ouro que, em 1951, chegavam a 209 milhões de dólares, ficaram negativas em 41 milhões de dólares no final de 1962.

Este é o panorama econômico que recebe González na América do Sul. O início é duro, sem dinheiro, dormindo na rua, perspectiva que muda ironicamente, com um chamado que o transporta novamente às questões espanholas.

“Un dia andaba yo por la zona del puerto y veo que había un viejo mural pegado en la pared, en el que se podía leer: Hoy, reunión anti-franquista, en 18 de Julio, 1321. Esto es lo que yo estaba buscando, me dije.”[3]

Sujo e com fome, recebeu a solidariedade dos espanhóis que participavam da manifestação conseguindo em pouco tempo até mesmo uma pequena casa para morar juntamente com um emprego como operário da construção civil. Enquanto o grande tema político de seus compatriotas era a situação da Espanha submetida à ditadura Franquista, no Uruguai dos anos 50, já inserido na nova geopolítica da Guerra Fria, as preocupações eram outras.

GUERRA FRIA E GUERRA INTERNA

Encerrada a Segunda Guerra Mundial, derrotados o nazi-fascismo e o Império japonês, consolidaram-se duas superpotências: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e os Estados Unidos da América. Os interesses defendidos pelas duas levaram o mundo à formação de blocos antagônicos, cujo resultado prático foi a Guerra Fria.

O fato de a Europa haver sido o principal cenário desta rivalidade não evitou que outras regiões do mundo fizessem parte dessa espécie de jogo, sendo uma delas a América Latina onde a estratégia político-militar dos Estados Unidos passou a ter como referência a hipótese de uma agressão extracontinental, com origem na União Soviética. Em 1951 o Congresso americano aprovou uma lei de segurança mútua que oferecia um programa de assistência militar para modernizar as Forças Armadas da região. Assim, entre 1951 e 1968, os Estados Unidos enviaram 500 milhões de dólares para aquisição de armamentos. Além de armas, a ajuda foi implementada sob a forma de financiamentos generosos para projetos de desenvolvimento através do programa “Aliança para o Progresso”.

O avanço comunista enchia milhares de páginas de relatórios secretos do Departamento de Estado Americano. Em março de 1950, um deles destacava que a América Latina era importante parte do sistema internacional não-comunista e fundamental elemento da posição estratégica dos Estados Unidos, em caso de guerra. O mesmo documento acrescentava:

“Las actividades de los comunistas representan nuestro mayor problema en el área y ya que ellas se están desenvolviendo deben ser miradas como un problema mayor y urgente pues ellos se aprovechan del fabuloso sentimiento antinorteamericano siempre presente en cada país de América Latina”[4].

No final da década de 50, um fato novo fez com que os americanos voltassem seus olhos com muito mais cuidado e preocupação para os vizinhos do sul.

Em 1959, Fidel Castro, liderando um exército revolucionário, derrubou a ditadura de Fulgencio Batista instalando o primeiro regime comunista da América Latina, a poucos quilômetros da Flórida. O fato fez com que surgisse um novo sentido de segurança para região:

“A chegada de Fidel Castro ao poder inaugurou um período excepcional nas relações entre os Estados Unidos e os latino-americanos, dando-se um acréscimo no peso das considerações sobre segurança militar crescendo o interesse daquele país sobre a região. Em termos reais, isto representou o estreitamento da margem de autonomia dos países da região que pretendessem diversificar suas opções em termos de política internacional. Ao mesmo tempo, deu-se o acirramento da intolerância de Washington com respeito a qualquer exercício de política independente dos países que gravitavam em sua órbita de influência”[5].

Se Fidel Castro ainda não se apresentara ao mundo como comunista, o mesmo não acontecia com Aurélio González, à época já atuando como fotógrafo, ofício que aprendeu com um velho combatente da República Espanhola que vivia no exílio uruguaio. Conhecido por todos como El Gallego, começou fotografando no jornal Justicia que fechou sendo substituído por El Popular, diário ligado ao Partido Comunista Uruguaio.

Quando o assunto era Uruguai, o temor da infiltração esquerdista preocupava os estrategistas americanos. O país, apesar de pequeno, era considerado estratégico. A irradiação de idéias comunistas a partir da fronteira com as duas principais potências regionais: Brasil e Argentina representavam apreensão para o Pentágono. Os americanos temiam que isso gerasse uma onda de protestos populares, o que realmente aconteceu quando a crise econômica violência política e o surgimento da guerrilha acabaram com tantos anos de tranqüilidade[6]:

Até o final de 1967, o Uruguai apresentava todos os requisitos exigidos para ser considerado uma democracia no sentido ocidental da palavra. Havia eleições livres regularmente, todos os partidos estavam autorizados a funcionar, não existia censura à imprensa e os direitos legais eram respeitados.

Em um país de tradições democráticas, o autoritarismo só conseguiu chegar e se instalar, à uruguaia, despacito[7]. Entre outros fatores, a democracia representativa e a vigência dos direitos civis tornaram muito difícil o trânsito até uma nova legitimidade do tipo autoritário.

A partir de 1968, as contradições internas agravaram-se e começaram a ocorrer profundas modificações na estrutura social do país ocasionando o rompimento da ordem. As Forças Armadas profissionais mudaram sua postura. Limitadas às condições de crescimento dependente, produzida a inflação e o endividamento externo e, principalmente, despertada a consciência de alguns setores populares, o enfrentamento era inevitável.

As transformações aconteceram em meio à convulsão social. A violência e a intolerância, que começaram a fermentar, surgiram de uma receita explosiva que continha os seguintes ingredientes no país: desemprego, inflação em alta e a inexistência de projetos alternativos para solucionar a crise. Todas essas variáveis vieram acompanhadas da falta de perspectivas para amplos contingentes da população.

No mesmo período, os Colorados voltaram ao poder. Uma diferença de 100 mil votos garantiu a vitória do binômio Oscar Gestido-Pacheco Areco. Eles venceram, desbancando depois de oito anos, as administrações do Partido Nacional (Blanco)[8].

O novo Presidente assumiu em 01/03/1967, em meio a um quadro político-econômico difícil. Ele chegou com intenções reformistas, logo cortadas pelas divisões internas do partido Colorado. Apesar de sua vocação legalista e democrática, o General Oscar Gestido decretou pela primeira vez neste período, as medidas de pronta seguridad[9].

Essa espécie de estado de sítio que suspendeu os direitos individuais dos cidadãos estava prevista pela Constituição uruguaia nos casos graves e imprevistos de ataque exterior ou comoção interna. A Assembléia Geral deveria ser comunicada no máximo 24 horas após a tomada da medida. Em 23 de outubro, as MPS foram levantadas, ao mesmo tempo em que o país apelou mais uma vez ao FMI. O General Gestido não teve tempo de avaliar essa decisão, pois morreu vitimado por um ataque cardíaco em 06/12/1967.

Sinais inequívocos de uma caminhada rumo à ditadura apareceram no início do governo de Jorge Pacheco Areco. O deputado, sem grande expressão e antigo lutador do boxe, não era a primeira opção dos Colorados para fechar a chapa com o General Oscar Gestido para o pleito de 1966.

A mudança de estilo e estratégia apresentados pelo novo Presidente, ficou clara apenas seis dias após sua posse. Nas ruas, a violência policial assumia proporções inéditas. Nos festejos do dia do Trabalho, a cavalaria investiu contra os manifestantes com sabres e gás lacrimogêneo.

Os tempos sombrios vividos pelos uruguaios, a partir do governo Areco, foram acompanhados de perto pelas lentes de González. Naquele período ele trabalhava sem folga em um jornalismo que classifica como engajado. Contra metralhadoras e sabres, o Gallego usava apenas a máquina fotográfica que registrou a maior parte das manifestações de rua de um dos períodos mais conturbados da história uruguaia. Como proteção contava apenas com as pernas: “Ellos siempre corrieron detrás de mí pero no había manera de agarrarme. Yo era más veloz que ellos. Siempre fui muy veloz”[10].

O país começava a conviver com sua “ditadura constitucional”. Ela garantia a marcha do Executivo, lentamente, até a imposição de seu projeto de governo e sociedade.

O programa era baseado na propriedade privada; na livre concorrência; em investimentos externos; no principio da autoridade e na ausência de toda oposição. Como conseqüência direta, havia a necessidade de eliminação dos mecanismos democráticos que se opunham aos seus planos.

Sob este aspecto, 12/08/1968 surgiu como um marco. Nesse dia, uma manifestação de rua contra o aumento nas passagens de ônibus, tema geralmente tratado pela editoria de geral ou pelo informe econômico dos diários, ocupou espaço nas páginas policiais. O estudante Liber Arce foi morto em um choque com a polícia no centro de Montevidéu. O crime tomou conta das páginas dos jornais, entre eles El Popular, cujas lentes atentas de Aurélio González não deixaram de lado qualquer momento no fato que chocou a sociedade uruguaia.

São várias as respostas que explicam porque a democracia deu lugar a uma das ditaduras mais fechadas da América Latina. A esquerda sustentava que o maior problema era o imperialismo, especialmente o americano, cujo sinal mais forte era as operações da CIA na região. Para direita, o problema era a radicalização dos sindicatos e o surgimento da guerrilha urbana, representada pelos Tupamaros. Para ambos, a queda das instituições relacionou-se à incapacidade dos políticos de enfrentarem ou resolverem os problemas da crise econômica que atingiu o país a partir da metade da década de 50.

É importante considerar, no entanto, que não foram apenas os partidos tradicionais, com sua falta de alternativas, os únicos responsabilizados pelo que aconteceu no Uruguai. A esquerda também é apontada como responsável, tendo falhado na missão de manter o funcionamento normal das instituições.

“Por un lado la izquierda clandestina al aceptar la violencia y desarrollar la lógica de la guerra, elementos de primer orden en la legitimación de las intervenciones militares. Por otro lado, la izquierda legal con su vieja costumbre de privilegiar los factores socio-económicos sobre los factores políticos, ofreciendo así un regalo a planes intervencionistas de los militares”[11].

Outro aspecto a ser considerado é a subversão, concebida como um fato bélico, mesmo com características diferentes das guerras convencionais. O discurso dos quartéis manifestava repúdio a todos os atos de terrorismo. Tal fato ficava evidente na declaração divulgada em reunião dos ministros militares no Clube Naval, em agosto de 1972:

“Nosostros repudiamos a la subversión que empuña las armas para asesinar cobardemente, la que expolia la economía nacional, la que usurpa el pueblo el producto de su trabajo, la que propende la corrupción moral, administrativa y política”[12].

A declaração do estado de guerra interna fez com que o estado de “ditadura constitucional” se tornasse cada dia mais inconstitucional. Para Sierra, a situação agravou-se com a chegada definitiva da “ley de seguridad del estado”:

“La aprovación en julio de la severísima ley de seguridad del estado, también inconstitucional en muchos de sus artículos, agrava esta situación al quitarle al poder judicial civil prácticamente toda injerencia en los delitos de importancia para la suerte del estado. Además, en nombre de la guerra contra delicuentes que amenazan la pátria, tanto las fuerzas armadas como el poder político aceptan los métodos sucios”[13].

Em 1972 já sob a presidência de Juan Maria Bordaberrry, ainda eleito diretamente, consolida-se o avanço definitivo das Forças Armadas sob o poder.

No dia 9 de fevereiro de 1973, se ainda havia alguma dúvida sobre a participação diretas dos militares nas decisões sobre os destinos do país, ela se dissipou com a publicação do Comunicado número 4. Em sua exposição de motivos, o documento informava:

“Los mandos militares conjuntos del Ejercito y Fuerza Aerea, ante al crisis que afecta el país, y a los efectos de despejar hasta la última duda que pueda existir en el espíritu de todos los uruguayos sobre las causas que la han ocasionado, sienten el deber moral de informar lo siguiente”.

Ressaltando que os militares, em todos os níveis, tomaram consciência plena da problemática que afetava o Uruguai, determinaram a importância de restabelecer inequivocadamente as metas a alcançar. Elas estavam expostas em uma série de objetivos, entre os quais destacamos:

· “Establecer normas que incentiven la exportación, estimulando los productores cuya eficiencia y nivel de calidad permita colocar la mercadería en plazas del exterior, a precios competitivos.

· Reorganización del servicio exterior. Velar porque sólo sean designados en representación de la República, a todos los niveles, personas que procedan no sólo con entusiasmo y dedicación, sino que ostenten una moral acrisolada.

· Eliminar la deuda externa opresiva, mediante la contención de todos aquellos gastos de carácter superfluo.

· Erradicación del desempleo y la desocupación mediante la puesta en ejecución coordinada de planes de desarrollo que utilicen el máximo de mano de obra nacional.

· Atacar con la mayor decisión y energía los ilicitos de carácter económico y la corrupción donde se encuentre.

· Reorganización y racionalización de la administración pública y el sistema impositivo de modo de transformarlos en verdaderos instrumentos de desarrollo con el mínimo esfuerzo para el erario público.

· Redistribución de la tierra buscando la máxima producción por hectárea.

· Creación, fomento y defensa de nuevas fuentes de trabajo, y el desarrollo de la industria en base a las reales posibilidades y necesidades nacionales.

· Extirpar todas las formas de subversión, que actualmente padece el país.

· Asegurar la intervención o la representación de las fuerzas armadas en todo organismo actividad que tenga relación con aspectos concernientes a la seguridad y soberanía nacional.

· Realizar los mayores esfuerzos, a fines de canalizar la mayor cantidad posible de ingreso nacional fortaleciendo la capacidad productiva de toda la población y aumentando simultáneamente el ahorro.

· Establecer disposiciones que permitan combatir eficazmente los monopolios.

· Apoyar a través de una política crediticia adecuada aquellos sectores de la economía que se estiman prioritarios, dando preferencia a los medianos y pequeños empresarios y las cooperativas de producción.

· Aceptar una inflación medianamente controlada. Mantener a las fuerzas armadas al margen de los problemas sindicales y estudiantiles”[14].

A ambigüidade e grande habilidade tática destes comunicados destinados, tanto às forças castrenses, como aos movimentos políticos e à opinião pública, se revelaria de primordial importância na neutralização relativa das oposições políticas nessa fase do avanço militar. Na verdade, preocupações com emprego; com a distribuição mais racional da terra; com o combate aos monopólios a fim de favorecer a máxima dispersão da propriedade; com o controle público da produção, oferecendo maior apoio a médios e pequenos produtores e empresários; pareciam sair de um documento assinado com a mão esquerda.

Os termos populistas, praticamente as bandeiras dos principais grupos e partidos de esquerda, foram imediatamente apoiados por vários setores da oposição o que criou grandes expectativas em relação aos artigos considerados mais progressistas. Com seu apoio, a própria classe política e às representações de trabalhadores, como a CNT, que enxergava vários pontos em comum entre seus objetivos e os principais pontos dos comunicados, assinaram uma espécie de cheque em branco para os militares[15].

O Partido Comunista Uruguaio apoiou deixando clara sua posição em editorial de El Popular, publicação oficial da sigla partidária:

“El problema no es el dilema entre poder civil y poder militar, que la divisoria es entre oligarquía y el pueblo. Dentro de esto caben indudablemente todos los militares patriotas que están con la causa del pueblo para terminar con el dominio de las roscas oligárquicas. Las Fuerzas Armadas deben reflexionar sobre este hecho: los marxistas, los comunistas integrantes de la gran corriente del frente amplio, estamos de acuerdo en el esencial con las medidas expuestas por las fuerzas armadas como salidas inmediatas para la situación que vive la República, y por cierto incompatibles con la ideología de la clase obrera y sin perjuicio de nuestros ideales finales de establecimiento de una sociedad socialista. Hoy como siempre creemos que para esta obra de auténtica recuperación nacional se necesita el esfuerzo de todos los orientales honestos, sin distinción de civiles y militares, con la única determinación de ser patriotas y creer en el pueblo”[16].

Um dia depois foi publicado o comunicado número 7. A ambigüidade e grande habilidade tática destes comunicados destinados, tanto às forças castrenses, como aos movimentos políticos e à opinião pública, se revelaria de primordial importância na neutralização relativa das oposições políticas nessa fase do avanço militar. Na verdade, preocupações com emprego; com a distribuição mais racional da terra; com o combate aos monopólios a fim de favorecer a máxima dispersão da propriedade; com o controle público da produção, oferecendo maior apoio a médios e pequenos produtores e empresários; pareciam sair de um documento com conotações esquerdistas.

Os termos populistas, praticamente as bandeiras dos principais grupos e partidos de esquerda, foram imediatamente apoiados por vários setores da oposição o que criou grandes expectativas em relação aos artigos considerados mais progressistas. Com seu apoio, a própria classe política e às representações de trabalhadores, como a CNT, que enxergava vários pontos em comum entre seus objetivos e os principais pontos dos comunicados, assinaram uma espécie de cheque em branco para os militares que aproveitaram para descontá-lo três meses depois.

UM PAÍS NA ESCURIDÃO

Quarta feira, 27 de junho de 1973, 5h30min: fazia frio na madrugada de Montevidéu, quando uma rede nacional de rádio e televisão difundiu o decreto 464 do Executivo. O documento assinado pelo Presidente Juan Maria Bordaberry e pelos Ministros do Interior, Néstor Bolentini, e da Defesa, Walter Ravenna determinava entre outras medidas:

1) “Decláranse disueltas las Cámaras de Senadores y la Cámara de Representantes

2) Créase un Consejo de Estado, integrado por los miembros que oportunamente se designarán, con la siguientes atribuiciones:

a) desempeñar independientemente las funciones específicas de la Asamblea General;

b) controlar la gestión del Poder Ejecutivo relacionadas con el respeto de los derechos individuales de la persona humana y con la sumisión de dicho poder a las normas constitucionales y legales;

c) elaborar un anteproyecto de Reforma Constitucional que reafirme los fundamentales principios democráticos y representativos, a ser oportunamente plebiscitado por el Cuerpo Electoral

3) Prohíbese la divulgación por la prensa oral, escrita y televisada de todo tipo de información, comentario o grabación que directa o indirectamente mencione o se refiera a los dispuesto por el presente decreto, atribuyendo propósitos dictatoriales al Poder Ejecutivo, o pueda perturbar la tranquilidad y el orden públicos.

4) Facúltase a las Fuerzas Armadas y Policiales a adoptar las medidas necesarias para asegurar la prestación ininterrumpida de los servicios públicos.

5) Comuníquese”.

Às 18h, as portas do Congresso foram lacradas, colocando um ponto final a 100 anos de civilismo uruguaio.

A escalada rumo à ditadura total foi percebida por González que já naquela época sabia a importância de manter documentados tempos tão obscuros para América Latina:

“Cuando ya estaba viniendo el Golpe de Estado Eduardo Viera, director del Popular me dijo conviene que vayas escondiendo las fotos de nuestro archivo”. Mi respuesta fue: “no se preocupe don Eduardo, ya lo hice”[17].

Na contramão do golpe, encontrava-se a resistência organizada pela CNT. Na realidade, o golpe de estado de março de 1964 no Brasil serviu como alerta para os trabalhadores uruguaios sobre a forma como deveriam agir, caso ocorresse algo semelhante no país. Durante 15 dias, eles promoveram uma greve geral como forma de pressão para reverter o quadro político instalado.

Desde o princípio da greve, que tomou conta das principais cidades do país, como Paysandú e Salto, os trabalhadores efetuaram a ocupação das fábricas para evitar que a tomada do local por militares pudesse representar a volta à normalidade do trabalho. Levado com determinação, o movimento foi um imediato protesto popular generalizado, cuja envergadura, combatividade e significado político causaram certa surpresa ao governo cívico-militar[18].

Comunista convicto, jornalista engajado, González, arriscando-se à forte repressão desencadeada por policiais e militares, concluiu que seria mais útil ao movimento indo para as ruas do que permanecendo na ocupação na redação de El Popular.

“Yo entendí que ocupando na hacía nada. Yo soy fotógrafo y como tal pensé. La verdad que aquí no hago nada. Qué hago aquí mirando el techo? Yo tengo que registrar lo que está pasando afuera. Así que me dije: La cuestión es ocupar, pero las cosas están transcurriendo en la calle. Es ahí donde está ocurriendo la historia, en las fábricas ocupadas, en los talleres, en los hospitales. Yo me voy a registrar la historia, y me agarré y me fui”.

Ao ser reconhecido pelos trabalhadores do setor de transportes aos gritos de “Es el fotógrafo de El Popular. Es el fotógrafo de El Popular. CNT y Libertad, CNT y Libertad, Aurélio avaliou o acerto de sua iniciativa. Por todos os cantos, em todas as fábricas que o fotógrafo visitava transformou-se em um porta-voz que trazia as notícias do que estava ocorrendo na cidade tomada pelas forças militares (VOCES, Frente Amplio, 27/10/2005).

No início, a greve conseguiu trazer os militares para negociação. Ela foi rompida no dia 29 quando o Ministro do Trabalho, Coronel Bolentini, exigiu a volta às atividades. O dia seguinte marcou o início da repressão contra o movimento, baseada na dissolução da CNT e nas ordens de prisão de pelo menos 52 líderes sindicais. A perda gradativa da força de mobilização fez com que os trabalhadores optassem pelo fim do movimento no dia 11 de julho. A avaliação dos grevistas foi que, em circunstâncias como as daquele momento, se a greve tivesse continuado, acabaria por enfraquecer os setores sindicais, consolidando a força do inimigo[19].

Durante a greve geral, em 9 de julho, a redação de El Popular, localizada na principal avenida de Montevidéu, foi invadida por tropas do Exército. O local foi destruído e pelo menos 135 jornalistas presos. Mais uma vez o Gallego conseguiu escapar e esconder no décimo-segundo andar do prédio todos os rolos de filmes batidos desde o dia do golpe. El Popular foi apenas um das dezenas de publicações fechadas pela ditadura. Ameaçado e perseguido González viveu algum tempo discretamente como fotógrafo particular. Chegou a vender meias nas ruas, mas, quando a sobrevivência tornou-se insuportável devido às perseguições, exilou-se na Embaixada do México em um episódio que mais uma vez deixou sua marca cinematográfica. Vestido de pintor de paredes jogou-se sobre um incrédulo diplomata na porta da representação diplomática. Junto carregava as fotos da resistência uruguaia ao golpe através da greve geral. Para trás ficaram aproximadamente 35 mil negativos que contavam a história do Uruguai e da América Latina entre 1957 e 1973.

AS LENTES QUE NÃO SE CALAM

Após permanecer no México, vinte meses, a partir de setembro de 1976, González optou pelo exílio europeu onde acreditava ser mais conveniente denunciar os problemas dos presos políticos. Primeiro foram dois anos em Madri. Depois se mudou para Amsterdã onde viveu entre 1979 e 1982, quando retornou para Espanha, desta vez em Barcelona onde morou até 1985 voltando então definitivamente para o Uruguai.

“Nosotros trabajamos mucho por la solidaridad, por denunciar la dictadura y por la libertad de los presos. Tanto en México como en Ámsterdam o en Lisboa, montábamos exposiciones con las fotos. También nos llegaban fotos del interior de los cuarteles con gente colgada, y allí las exponíamos”[20].

A eficácia do trabalho em nome da solidariedade realizado por González e um grupo de exilados com o apoio de estrangeiros, como sua mulher, a holandesa Rinche, pode ser medido pelos resultados obtidos. Na Holanda, um abaixo-assinado pela liberdade de presos políticos colheu mais assinaturas do que em qualquer outra parte do mundo:

“No estoy hablando de que esto fuera proporcional al número de habitantes, digo que recolectamos más firmas que en cualquier otro sitio del mundo”[21].

A pressão internacional, a mobilização de milhares de uruguaios no exterior e no próprio país, as negociações entre políticos e Forças Armadas levaram ao acordo que devolveu as eleições diretas ao Uruguai. A vitória de Julio Maria Sanguinetti, do Partido Colorado, tranqüilizou os militares em relação à possibilidade de revanchismo. O novo Presidente assumiu em fevereiro de 1985, e como que homenageando o sol que marca sua bandeira, o Uruguai fez valer, depois de anos de sombras, sua vocação democrática.

Independente da discussão se o poder foi devolvido pelos militares ou obtido pela mobilização popular, o certo é que, a partir da posse de Sanguinetti, em 1985, a ditadura acabou na prática. Presidente e Parlamento, eleitos pelo povo, assumiram. Em março, uma anistia libertou todos os presos políticos. O Parlamento voltou a votar leis, o Presidente a promulgar. O Ministro da Defesa transmitia ordens e as Forças Armadas obedeciam.

Aurélio González foi um dos milhares de uruguaios que retornaram para o país, mas o sonho de ter nas mãos o acervo de fotos de El Popular teve que esperar longos 33 anos para se concretizar.

LA UNICA LUCHA QUE SE PIERDE ES LA QUE SE ABANDONA

De volta ao Uruguai o fotógrafo voltou ao prédio de El Popular onde tinha escondido os negativos. A esperança de reencontrá-los foi soterrada por uma reforma no edifício. Trinta e três anos depois, em março de 2006, uma pessoa que não quis se identificar trouxe uma pista. Durante a reforma, um operário localizou o material, mas, com medo de represálias, escondeu-o em outro lugar do mesmo prédio. Uma ação clandestina, mais uma vez digna das páginas de ficções, levou o Gallego hoje conhecido por colegas e amigos também como El Tigre e três companheiros a invadirem uma garagem. Depois de algumas horas de uma complicada operação, na qual foram usados mastros de PVC com imã nas pontas realizaram um sonho. As latas com filme foram puxadas com os imãs revelando um “tesouro” com mais de trinta mil negativos de um período de grande efervescência política, social e cultural do Uruguai e de outros países da América Latina.

As mesmas ruas e avenidas que foram cenário de tanta violência celebram agora a amizade. A recuperação das fotos reaproximou antigos companheiros de luta pelas páginas de El Popular que finalmente podem abraçar o passado, conforme explica o antigo repórter da publicação, o jornalista e ex-preso político Rodolfo Porley:

“Hasta ahora no podía abrazar ese pasado porque estaba ligado a muchas tristezas y frustraciones. Ahora con la alegría del triunfo de los hallazgos documentales, es un pasado que queremos compartir con todo el país, con nuestras hijas e hijos, a nuestros hermanos, los latinoamericanos y al mundo”[22].

Ao tirar lata por lata do interior dos dutos onde foram guardadas, Aurélio González lembrou em meio à emoção:

“Aquí dentro de esta pared quedó guardada durante 33 años, aquellos 18 años de historia registradas en el diario. Y cuando salían esas reliquias, era mucho mas que si fueran moneadas de oro, eran la historia viva de este país, que había sido reprimida y deformada”[23].

O velho fotógrafo espanhol em suas andanças mostrou com coragem, honestidade e engajamento o papel de parte de uma imprensa que esteve ao lado do povo sem se curvar aos poderosos de plantão. Jornalistas como Aurélio González, ao preservarem a história, fazem a história, porque nunca abdicaram de seus sonhos, mesmo os considerados impossíveis afinal, como já disse o cineasta argentino Fernando Birri:

“A utopia está no horizonte. Me aproximo dois passos e ela se afasta dois. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos para trás. Por mais que eu caminhe jamais a alcançarei. Então para que serve a utopia? Para isso, ela serve para caminhar.”

Aurélio González Salcedo é um daqueles homens para quem a caminhada nunca termina.




sábado, 22 de março de 2008

VIVER É PRECISO...

Quem morre?

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco
e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

PABLO NERUDA

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

CONFESSO QUE VIVI

Feliz dos que já descobriram o poder das palavras...

Um presente de Pablo Neruda:

AS PALAVRAS

SIM SENHOR, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as... Amo tanto as palavras ... As inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho...
Persigo algumas palavras... São tão belas, que quero colocá-las todas em meus poemas... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites em meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda... Tudo está na palavra... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que obedeceu a ela... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, tem tudo o que se lhes for agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores. Torvos... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam, a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.”


sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Curso de extensão: História de Cuba

CURSO DE Extensão

Promoção Curso de história

PROFESSora responsável Regina Curtis

HISTÓRIA DE CUBA


Dia: 02/01/07

Tarde: Cuba da independência tutelada ao assalto ao Quartel de Moncada
Noite: Filme “A cidade perdida”

Dia: 03/01/07

Tarde: Do processo revolucionário cubano: do desembarque do Gramna à entrada vitoriosa em Havana.
Noite: Filme “Che Guevara”

Dia: 04/01/07

Tarde: Cuba da construção do socialismo ao “Período Especial” (1990 a 1994)
Noite: Filme “Buena Vista Social Clube”

Dia: 05/01/07

Tarde: Cuba e a revolução: o legado do século XX
Noite: Filme “Havana Blues”

Inscrições na coordenação do Curso de História: Somente dia 15/12/06 (9h às 21h)

30 Vagas

Com Certificado de 32h/a com 75% de freqüência

Horários: (14h10min às 17h30min -18h30min às 21h45min)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sons da Ditadura

GRUPO  VOCAL  ULBRA e GRUPO EXPERIMENTAL DE DANÇA DA ULBRA
APRESENTAM:

"SONS DA DITADURA" - O melhor da MPB durante o governo militar

Participação especial:
Profª Ms. Regina Curtis ( professora do curso de História )
Jean Presser - teclado
Everson Vargas - contrabaixo
Marquinhos Fê - bateria

Produção audiovisual:
Marco Villa Lobos Vargas (professor do curso de Comunicação)

Direção musical:
Atos Flores

Coreografia:
Luciane Coccaro

Auditório do Prédio 14
ULBRA - Canoas/RS
Dia 15 de junho de 2007 - 20 horas

A Revolução Brasileira: um diálogo entre Nelson Werneck Sodré, Caio Prado Júnior e Celso Furtado.

Neste artigo recuperamos o pensamento de três representantes da esquerda intelectual do país que no
decorrer da década de 1960 se encontravam refletindo acerca das transformações que vinham se processando
nas instituições políticas, econômicas e sócio-culturais da sociedade brasileira. Trata, de modo mais
específico, das diferentes idéias de Revolução que circulavam naquele período entre os seguintes autores e
suas respectivas obras: Nelson Werneck Sodré, “Introdução à Revolução Brasileira”; Celso Furtado, “A
Pré-Revolução Brasileira” e Caio Prado Júnior, “A Revolução Brasileira”. Para tanto vamos explorar os
pontos de convergência e divergência entre o pensamento destes intelectuais, demonstrando, assim, as
diferentes interpretações sobre as possibilidades de se realizar a Revolução no Brasil.